sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

23 – O riso da Joana

Enquanto a Joana se ria agarrada a mim até ao ponto de lhe doer a barriga, em frente à prisão começava a juntar-se uma pequena multidão. Não é nada normal aparecerem forasteiros na cidade, dada a nossa situação peculiar é normal que as pessoas sintam, por um lado, curiosidade, mas por outro apreensão quando ao desfecho da visita.

Tentei prosseguir o nosso caminho, embora não soubesse realmente onde queria ir. Na verdade tinha sido arrastado pela Joana. Ela ia repetindo caoticamente algumas das frases e situações que achara cómicas no encontro com as forasteiras. Não consegui avançar mais do que a loja do meu pai, mesmo em frente ao poema. Sim o poema, que com isto tudo tinha ficado esquecido. No entanto o riso da Joana era tão genuíno e forte que acabei contagiado e rimo-nos à brava os dois agarrados ora às nossas barrigas ora um ao outro.

Reparei mais uma vez no poema. Tive um impulso de contar as minhas suspeitas, mas no estado em que estava a Joana certamente iria continuar a chorar a rir. Não estava preparado para ser gozado em algo que me tocara fundo. Se não tivesse lido o poema, não estaria ali cheio de lágrimas e com dores no maxilar. A minha vontade de rir desapareceu. A Joana levou algum tempo a recuperar e a reparar que eu deixara de rir.

- Parece que isto está a ser uma moda. – Disse eu quando ela se pôs a ler o poema. Não me pareceu particularmente surpreendida, nem interessada, nem indignada. Encolheu os ombros e disse:

- Acho que deves avisar o teu pai e eu o meu. Já agora os Espinhos também.

- Por causa do poema? – perguntei espantado.

- Se achares importante... o teu pai não faz parte do Concelho Municipal? O meu como tem um consultório faz. – Ela deve ter percebido que eu não estava a entender – Por causa da priminha que está ali na delegacia? Dah!

- Ah, pois claro. Mas não achas que o Xerife já não telefonou para o Mayor?

- Mas duvido que tenha telefonado para os nossos pais.

- Ok, então eu vou para casa e aviso o Mike e a Vanessa também.

- Eu passo pela casa do Luís. De certeza que em breve estaremos todos juntos em frente à Câmara.

1 comentário:

  1. Acho um pouco estranho essa falta de interesse da Joana pelo poema. Não é o único graffiti em Silveira?

    Só se foi ela que o escreveu...

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