sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

25 – Entra em cena o venerável Dr. Capuchinho

Não demorou muito para chegar o avô da Joana, dois minutos depois seguido pelo Mayor e restante Concelho Municipal. O Dr. Capuchinho dos pioneiros é um único sobrevivente e pelo aspecto da mesma fibra do venerável Teotónio. Apesar de não exercer nenhum cargo municipal, continua activo ora no The Workers Licor and Food ora no seu escritório, num primeiro andar a meio caminho entre o Hospital e o Groceries. Na minha opinião, se em Silveira existisse um senado ele seria o decano. Mais, estou convencido que grande parte das decisões políticas e administrativas do Mayor passam pela aprovação do Dr. Capuchinho. É uma desconfiança cá minha.

Se o aspecto do Teotónio não desmentia as suas origens rurais, olhando para o Dr. Capuchinho o mesmo acontecia, mas no sentido de estarmos perante um senhor como já não se vê. Alto, de mais ou menos sete pés, sempre aprumado num dos seus fatos de fino corte, barba branca à patriarca, chapéu preto com fita de cetim, bengala, de que não necessita realmente, de marfim ricamente trabalhado na pega, olhar penetrante, poucos sorrisos, mas muito cavalheirismo. A Joana conta que o avô é bastante afectuoso para com ela, não tanto para com a irmã, e que não consegue disfarçar uma certa tristeza por não ter um neto que continuasse com o nome dos Capuchinhos.

Devo confessar que só depois do início dos Espinhos é que me apercebi que o Dr. Capuchinho tinha um filho e netas. Sempre o vira, tal como o venerável Teotónio, sem descendentes directos, totalmente dedicado à cidade. Os dois, na minha imaginação e forma de os ver, representavam quase uma forma de sacerdócio celibatário. Homens de fibra moral, totalmente empenhados no bem-estar dos outros, que sacrificavam todas as suas ambições pela missão que abraçavam. Mesmo agora olhando para ele tenho dificuldades em pensar que a Joana é sua neta. A sua presença é de tal maneira magnética que somos compelidos a ouvi-lo, respeitá-lo, obedecer-lhe e venerá-lo. A minha desconfiança de que os cordelinhos da Silveira estão sempre entre os dedos do Dr. Capuchinho deve vir da constatação deste poder que ele tem.

O Dr. Capuchinho chegou à porta da Prisão vindo do lado da Câmara, a sua casa situa-se por trás. Abrandou o seu passo firme e apressado para cumprimentar os presentes. Fez uma pequena inclinação com a cabeça quando tirou o chapéu e respondeu a uma pergunta sobre se era verdade que surgira uma filha do velho Teotónio, dizendo:

- Vamos ver, vamos ver. Não se aflijam que vou ver o que se passa.

Logo depois entrou cumprimentando o Ajudante do Xerife que estava zelando para que ninguém supérfluo ao que se passava lá dentro entrasse.

E a manhã instalou-se.

2 comentários:

  1. Hoje li os dois últimos episódios de uma assentada. Vamos lá ver então o que consegue averiguar o Dr. Capuchinho.

    Já agora, uma pergunta: porque é que ele é mais carinhoso com uma neta do que com a outra?

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  2. Bem não sei bem o que se passa na cabeça do Venerável, mas suspeito que seja porque a Joana sendo mais nova ainda não está tão influenciada pelas ideias liberais dos pais. Ou talvez por causa da queda em desgraça da irmã mais velha.

    Vá-se lá saber o que se passa na cabeça de um dos fundadores da cidade?

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