terça-feira, 7 de dezembro de 2010

24 – Elucubrações ligeiramente fora da multidão

E assim foi. Em menos de meia hora a multidão em frente à prisão duplicara. Os Espinhos juntaram-se no momento em que o meu pai e o pai da Joana conseguiram entrar na prisão. A bem da verdade chegaram primeiro do que o próprio Mayor e o restante Concelho. O Mike vinha ensonado dizendo que levaram muito tempo a aquecer aquela cheerleader friorenta. A Vanessa vinha de mau humor. E o Luís simplesmente aborrecido porque tinha que ir visitar a namorada, discretamente, mas a curiosidade era maior.

Nós pusemo-nos um pouco à parte, para podermos conversar mais à vontade. Alguns elementos das nossas famílias estavam misturados na multidão e espalhavam a notícia desta neta que ameaçava o nosso modo de vida, Silveira’s way of live.

Entre nós comentávamos o que se conhecia da história do senhor Teotónio. Até àquele momento estávamos convencidos, tal como toda a cidade, de que ele não deixara herdeiros naturais. A sua fortuna e propriedades tinham sido doadas ao Concelho Municipal na forma de uma fundação.

Teotónio vivera o suficiente para ver a cidade pronta. Pareceu-nos altamente improvável que tivesse descendentes, se vivera quase sempre na cidade. Desde que regressara a Portugal até à sua morte passaram quase trinta anos. A Joana lembrou que ele tinha saídas regulares da cidade.

- Como é que sabes disso? – Perguntou a Vanessa.

- Não te esqueças que o meu avô era o advogado pessoal do Teotónio. As histórias que circulam na minha família nem toda a gente as sabe. Mas acho que isto até era do conhecimento geral. Ele tinha que ir ao banco, contactar com fornecedores e empreiteiros. Não é estranho que saísse muitas vezes, tal como o meu avô.

- E então era possível que ele tivesse uma mulher fora da Silveira? – Perguntou o Luís.

- Sim, tal como tu tens. – Respondeu a Joana. – Não me espanta que tivesse. Das fotografias que temos dele, mesmo já com idade avançada, continuava com um certo charme.

- Para mais sabendo-se da fortuna que possuía. – Conclui eu perante o ar de espanto desaprovador dos restantes Espinhos. – Se calhar disse alguma mentira. Não me digam que era impossível ele atrair alguma golpista?

Todos concordaram comigo resignados. Todos sabíamos que o velho Teotónio era um homem cheio de energia, empreendedor, dinâmico e que só parou quando morreu, mesmo assim deu-lhe imensa luta. Seria de estranhar que, após o longo luto pela Fiona, ele voltasse a querer casar? O estranho é não ter trazido para a Silveira essa mulher. Ninguém ficaria chocado se ele casasse de novo. Ou ficaria?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Queria deixar aqui a sua opinião.