sexta-feira, 1 de abril de 2011

57 – O que os factores exteriores provocam

Talvez por causa da tristeza da Vanessa, talvez por causa do comunicado, acabámos por não ir passear. É certo que ter começado a chover ajudou.

Foi uma tarde muito bem passada na casa do Dr. Capuchinho, que para variar não estava, mais tarde soube-se que nem na cidade. Nas traseiras havia um alpendre com dois bancos de baloiço suspensos. Foi muito agradável. A chuva caía no quintal ajardinado, ouvia-se o seu suave murmúrio por cima de nós como uma banda sonora. Sentíamos a actividade doméstica no interior. Mãe e filha, Maria e Cristina, preparavam-nos um belo lanche. Havia no ar um doce aroma a bolo de canela como à vezes acontece lá em casa.

Ocupámos os dois bancos: raparigas para um e rapazes no outro. Eu, que de parvo por vezes sou apelidado, estúpido não sou. Escolhi ficar na ponta mais afastada das raparigas a fim de poder estar sempre virado para elas. Qualquer um que falasse, rapaz ou rapariga, eu estaria de frente para ele ou ela. Objectivo? Poder contemplar a minha Joana. Para minha sorte ela estava logo na frente das outras, quase nada a tapava no meu campo de visão.

A Vanessa ficou no meio, murcha apesar do aconchego das outras raparigas. E de nós, mas já se vê, somos rapazes, há certas distâncias. Para mais que somos amigos há muito tempo.

Até à altura do lanche falámos pouco. A chuva caía. Os bancos oscilavam. Cada um viajava nos seus pensamentos. Olhares trocavam-se. Percebi a ligação nascente entre o Luís e a Clarissa. Dei por mim a pensar que só faltava o Mike e a Vanessa...

A chuva trouxera um agradável frescor. Sabia bem estarmos ali, juntos, a vê-la cair ou somente a senti-la como eu. Mudei o assunto dos meus pensamentos ao cruzar o meu olhar com o da minha... Joana. Lembrei-me da madrugada de há dois dias. Aquela música renasceu dentro de mim, épica, misteriosa, suave, telúrica. Ah, como o amor e uma tarde de chuva sob um alpendre fazem desencantar em nós palavras pouco habituais: telúrica!

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