terça-feira, 12 de abril de 2011

60 – Ponto de não retorno

Por mais estranho que parecesse, o meu plano dependia de como a Joana viesse vestida. Foi por isso que saí de casa tão cedo. Queria vê-la chegar para ter tempo de pensar no que fazer a seguir.

Esperei oculto, mas suficientemente perto com o objectivo de entrar pouco depois dela. Graças a Deus estava nevoeiro. Este plano tinha muitas variáveis. Depois de entrar na igreja tive que enfrentar outra.

A Joana foi para a parte da frente. Ainda havia pouca gente, essa variável estava a meu favor. Tinha que agir e agi. Ela depois de chegar ao seu lugar habitual pousou a mala e iniciou o despir da gabardina. Era minha deixa. Apressei-me a tirar o meu casaco e quase que corri para ela. Com a minha aparição a seu lado, a gabardina ficou a meio caminho. Falei baixinho.

- Olá, Joana. Está bem?

Ela pareceu surpreendida, mas rapidamente sorriu.

- Olá, Beto, sempre vieste. Que bom.

- Deixa que te ajudo. – Peguei na gabardina dela e ajudei-a a despi-la. Dobrei-a e com o meu braço direito oculto pelo meu casaco consegui encontrar um bolso dela. Deixei lá dentro um pedaço de papel. Ponto de quase não retorno. – Eu vou lá para trás, sinto-me melhor, só vim dizer-te olá. Até já.

A surpresa voltou ao seu rosto enquanto eu lhe dava a gabardina. No meu rosto dois incêndios abrasavam cada lado. Até a testa ardia. Fui para última fila. Ajoelhei-me e pedi a Deus para acalmar-me. Fiquei lá algum tempo. Faltava fazer o resto. Chegar ao ponto de não retorno e enfrentar mais umas quantas variáveis. A calma foi chegando. A adrenalina voltou a jorrar. Mesmo que não conseguisse fazer o resto, o mais importante já estava feito, os dados estavam lançados.

Depois da oração de joelhos a Joana levantou-se e foi à sacristia. Era a hora. Saí calmamente do meu lugar e da igreja. O nevoeiro era meu amigo. Não vinha ninguém a entrar, por isso ninguém deve ter-me visto sair. Corri para a estrada. Tirei o objecto do bolso e fiz o que tinha planeado. Um minuto depois, ok talvez dois, estava de volta ao meu lugar. A Joana continuava lá dentro. Pouco depois da minha chegada entraram mais pessoas. Cumprira o meu plano sem imprevistos, mas com muitos nervos e tensão. Atingira o ponto de não retorno.

Depois da tempestade veio a calma. Pacificado entreguei todo o sucesso deste empreendimento a Deus. Já não tinha nada para lhe pedir, só Lhe agradecia a oportunidade e dei por mim a dirigir-Lhe o mesmo carinho que sentia pela Joana.

Vogando nestes pensamentos e sentimentos só quando a Joana regressou da sacristia é que reparei na presença da Vanessa e da Clarissa. À saída fiquei a saber que elas deviam ter chegado pouco depois de eu ter ido dar um saltinho à rua. Não me falaram por não quererem interromper a minha oração, eu devia estar mesmo absorto. Estavam surpreendidas e eu também.

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