sexta-feira, 8 de abril de 2011

59 – As inconstâncias da alma

Como seria de esperar dormi mal de noite, se é que cheguei a dormir. O plano desfilava na minha cabeça acordado e a sonhar. Dormi, mas não descansei. Muita tensão, muita ansiedade. Assim que saí à rua, pareceu-me ter nascido de novo. Uma leveza, uma calma, a certeza de que tudo ia correr bem. Porquê? Mal se via um palmo à frente do nariz por causa do nevoeiro.

Coloquei o capuz não fosse a minha alegria irradiar luz. No bolso interno do casaco leva o que precisava e mergulhei na bruma. Se fosse há duas semanas, teria dito que os deuses estavam do meu lado, mas eu dirigia-me à igreja. Deus e santo António, padroeiro da igreja, estavam do meu lado. Pelo caminho fui agradecendo ora a um ora ao outro, mas no fim acabei por centrar-me em Deus, afinal tudo depende dele, não é?

Algures lá no fundo da minha consciência havia o desconforto de estar a servir-me da ida à igreja para os meus próprios interesses. Eu abafava esta voz dizendo mais alto que antes do plano já tinha decidido ir à igreja no domingo. A voz respondia-me com o nome da Joana, se não fosse por ela, não ia. Normalmente após este argumento eu calava-me por algum tempo até dizer que era por amor. A voz, por vezes podia ser muito cínica, dizia que eu não conhecia o amor, aquilo era um capricho, uma necessidade de afirmação perante o Mike e o Luís.

Quem te viu, quem te vê, Beto. Há cinco minutos irradiavas luz, agora entras numa espiral de conflito interior. Parei. Respirei fundo. O ar húmido fez-me bem. Manter o plano. Manter o plano era o melhor. Haver nevoeiro era bom sinal. Era sinal que Deus estava do meu lado. Calei assim a voz incómoda e retomei a caminhada.

1 comentário:

  1. Mau! "uma necessidade de afirmação perante o Mike e o Luís".

    Bem, vamos lá ver o plano...

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