terça-feira, 29 de março de 2011

56 – A decisão da Vanessa

A pergunta ficou por responder. Quem quer que tenha escrito este novo poema era alguém que não conseguira aproximar-se de quem gostava. Até chegarmos à caso do Dr. Capuchinho tentei lembrar-me de como me relacionava com a Joana. Nós éramos próximos. Que mais queria ela? Que pergunta parva, o mesmo que eu: ser correspondido. Para isso devia declarar-me. Ui, problemas à vista. E se não for ela quem escreve os poemas?

Tive que deixar este raciocínio para depois. Chegámos. A dona Maria abriu-nos a porta com simpatia. O resto do pessoal já estava lá. Senti um calor na cara ao olhar para a Joana e pior, sentir o olhar dela em mim. Onde está um buraco quando uma pessoa precisa dele?

Embaraçado ou não, corado ou não, lá cumpri as obrigações sociais de aperto de mão ao Luís e beijos à raparigas. Terei alucinado ou houve uma descarga de electricidade quando a pele do meu rosto tocou na dela?

O Mike devia estar com vontade de contar o nosso desentendimento no cruzamento, mas o Luís quis saber como os nossos pais tinham reagido. Desvalorizámos os sermões. O mesmo acontecera com os resto do pessoal, excepto com a Vanessa que ficara sem mesada e sem renovação do guarda-roupa nos próximos tempos.

- Não faz mal, assim que eu entrar na universidade nunca mais ponho os pés nesta cidade. – Encolheu os ombros e sentou-se como se não afectasse cortar definitivamente com a família.

- E como vais pagar os estudos? – Perguntou o Mike.

- Se eles descobrirem que não quero voltar, arranjo um emprego e estudo de noite.

Olhou-o de frente durante algum tempo como que desafiando-o ou aos pais através dele, mas acabou por esconder o olhar que ficara raso de lágrimas. A Joana sentou-se ao seu lado, passando o braço por cima do seu ombro. O Mike sentou-se no outro lado e pegou-lhe na mão.

- Vá lá, não fiques assim. Estes castigos não duram muito. Eu já tive muitos e tudo passou.

Levou a mão livre à cara e começou a soluçar. A Joana falou:

- Não deves comparar as coisas. A Vanessa tem uma vida familiar diferente da nossa. Infelizmente não há muita harmonia, não é minha amiga? – Beijou-a na cabeça. A Vanessa acabou por encostar-se à Joana e esconder a cara no abraço desta. – Vá deita cá para fora, depois vais sentir-te melhor.

A Clarissa guardou uns papéis, que tinha nas mãos quando chegámos, no bolso das calças e acocorou-se em frente da Vanessa dando-lhe o conforto possível. Eu e o Luís ficámos de pé sem saber o que fazer.

O meu olhar estava na minha Joana. Ó como é bela! Como tem um coração maravilhoso! Naquele momento percebi não me interessar se ela era a autora dos poemas ou não. Se for, melhor, mas gosto dela por quem é, já não por causa do que imagino através daqueles escritos.

1 comentário:

  1. É isso mesmo. Sendo ela, ou não, a autora dos poemas, o Beto pode sempre declarar-se.

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