Chegados à casa da Joana e a Vanessa foi tocar à porta. Não chegou a fazê-lo pois a porta abriu-se e estava de saída o Dr. Capuchinho, pai. Pareceu surpreendido por ver, em primeiro lugar, a Vanessa à sua frente e depois por nos ver no passeio especados a olhar para ele. A surpresa não o impediu de descer as escadas e sair para o passeio como se ninguém estivesse ali.
Veio ao meu pensamento que o avô da Joana pudesse pensar que nós seriamos ali da zona, que não gostasse que a neta se desse com párias. Para evitar esse tipo de pensamentos e porque tinha essa curiosidade, disse enchendo-me de coragem e de pouca-vergonha:
- Dr. Capuchinho, boa tarde. O senhor sabe me dizer onde é que ficou hospedada a minha prima Clarissa, neta do senhor Teotónio?
Realmente fui muito audaz. O Dr. Capuchinho é extremamente respeitado na cidade, ninguém lhe fala levianamente, só por falar. No fundo todos tremem de medo. Ele olhou para mim de cima a baixo e fixou-se no meu olhar. Consegui aguentá-lo. Como temia que ele não me reconhecesse, disse:
- Eu sou o filho do Ventura, gerente do Grand Groceries.
- Eu sei quem o senhor é. – Mau, ele tratou-me por senhor. – Estou surpreendido com a sua atitude, senhor?
- B... Alberto.
- Senhor Alberto. Deve ser a única pessoa nesta cidade não preocupada com o que está a se passar. Pensei que o senhor fosse mais maduro do que demonstra.
- Mas Dr. Capuchinho, o que o leva a dizer isso?
- O senhor estar a fazer chiste da situação. Parece que está muito feliz por ver a cidade em perigo de deixar de existir.
- Mas o senhor acha que só porque apareceu uma neta do Senhor Teotónio que a cidade vai desaparecer assim sem mais nada? Não me parece.
- Estou surpreendido. O senhor Alberto tem a inteligência tão superior aos líderes da cidade que viu logo que a cidade não corre perigo. Se calhar devia convidá-lo para a reunião do Concelho Municipal, para nos iluminar com as suas soluções mágicas.
- O senhor merece todo o meu respeito, pelo seu passado, pelo muito que deu à cidade, mas se pensarmos um pouco mais acima da nossa realidade, somos forçados a reconhecer que tudo o que a cidade teme perder se baseia numa enorme ilegalidade. A nível nacional nós somos ocupantes ilegais de terrenos privados.
- O senhor Teotónio legou-nos as suas propriedades. Não venha com conversas jurídicas para mim, pois nesta cidade eu devo ser quem mais entende disso.
- Desculpe interrompê-lo, mas se o Senhor Teotónio legou aos ocupantes das suas terras a propriedade delas não temos nada a temer destas forasteiras. – O Dr. Capuchinho ficou em silêncio perscrutando-me. – O facto de estar preocupado com o nosso futuro, não me impede de ficar curioso sobre um parente que desconhecia ter. E mais, a cidade até hoje foi muito bem gerida, de certeza que ao longo a sua história surgiram problemas tão ou mais complicados que este e ainda cá continuamos. A minha inteligência não vai fazer falta. Eu só falei consigo para que o senhor não pensasse que a sua neta se dava com gente qualquer, caso o senhor não nos reconhecesse. Pois deve ser para o senhor uma provação ter o seu filho e netas a viver nesta parte da cidade.
- O senhor está a pôr na minha pessoa preconceitos seus.
- Por acaso estarei errado?
Ficámos em silêncio uns segundos. Eu devia estar vermelhíssimo. O Mike, o Luís e a Vanessa estavam de boca aberta. A Joana estava à porta também corada e de boca aberta. O Dr. olhou em volta, os outros procuraram disfarçar o espanto.
- O senhor quer me convencer que o seu grupo é uma boa companhia para a minha neta?
- Sim. Senti a necessidade de o descansar. Afinal deve ser uma ocasião muito especial e de uma importância ainda maior o dia em que vem para estas bandas. Se calhar há muito que não vinha aqui. Logo quando ia a sair vêm um grupo de jovens à porta das suas netas, antes que pudesse fazer juízos apressados sobre nós decidi descansá-lo subtilmente. Falhei redondamente. Afinal não sou assim tão inteligente.
O Dr. Capuchinho sorriu, quase rindo, e começou a caminhar deixando-nos abismados. Meia dúzia de passos à frente virou-se e disse-me:
- Senhor Beto, estou feliz por a minha neta Joana ter amigos como os senhores. A sua... suposta... prima Clarissa está hospedada em minha casa. Acabei de convidar a família do meu filho a frequentar mais a minha casa afim de dar uma hospedagem agradável às duas senhoras. Sendo eu sozinho não posso dar a atenção necessária que ela merecem, estado na minha casa. E por acrescento os senhores estão convidados a fazerem as honras da cidade à jovem Clarissa.
Veio ao meu pensamento que o avô da Joana pudesse pensar que nós seriamos ali da zona, que não gostasse que a neta se desse com párias. Para evitar esse tipo de pensamentos e porque tinha essa curiosidade, disse enchendo-me de coragem e de pouca-vergonha:
- Dr. Capuchinho, boa tarde. O senhor sabe me dizer onde é que ficou hospedada a minha prima Clarissa, neta do senhor Teotónio?
Realmente fui muito audaz. O Dr. Capuchinho é extremamente respeitado na cidade, ninguém lhe fala levianamente, só por falar. No fundo todos tremem de medo. Ele olhou para mim de cima a baixo e fixou-se no meu olhar. Consegui aguentá-lo. Como temia que ele não me reconhecesse, disse:
- Eu sou o filho do Ventura, gerente do Grand Groceries.
- Eu sei quem o senhor é. – Mau, ele tratou-me por senhor. – Estou surpreendido com a sua atitude, senhor?
- B... Alberto.
- Senhor Alberto. Deve ser a única pessoa nesta cidade não preocupada com o que está a se passar. Pensei que o senhor fosse mais maduro do que demonstra.
- Mas Dr. Capuchinho, o que o leva a dizer isso?
- O senhor estar a fazer chiste da situação. Parece que está muito feliz por ver a cidade em perigo de deixar de existir.
- Mas o senhor acha que só porque apareceu uma neta do Senhor Teotónio que a cidade vai desaparecer assim sem mais nada? Não me parece.
- Estou surpreendido. O senhor Alberto tem a inteligência tão superior aos líderes da cidade que viu logo que a cidade não corre perigo. Se calhar devia convidá-lo para a reunião do Concelho Municipal, para nos iluminar com as suas soluções mágicas.
- O senhor merece todo o meu respeito, pelo seu passado, pelo muito que deu à cidade, mas se pensarmos um pouco mais acima da nossa realidade, somos forçados a reconhecer que tudo o que a cidade teme perder se baseia numa enorme ilegalidade. A nível nacional nós somos ocupantes ilegais de terrenos privados.
- O senhor Teotónio legou-nos as suas propriedades. Não venha com conversas jurídicas para mim, pois nesta cidade eu devo ser quem mais entende disso.
- Desculpe interrompê-lo, mas se o Senhor Teotónio legou aos ocupantes das suas terras a propriedade delas não temos nada a temer destas forasteiras. – O Dr. Capuchinho ficou em silêncio perscrutando-me. – O facto de estar preocupado com o nosso futuro, não me impede de ficar curioso sobre um parente que desconhecia ter. E mais, a cidade até hoje foi muito bem gerida, de certeza que ao longo a sua história surgiram problemas tão ou mais complicados que este e ainda cá continuamos. A minha inteligência não vai fazer falta. Eu só falei consigo para que o senhor não pensasse que a sua neta se dava com gente qualquer, caso o senhor não nos reconhecesse. Pois deve ser para o senhor uma provação ter o seu filho e netas a viver nesta parte da cidade.
- O senhor está a pôr na minha pessoa preconceitos seus.
- Por acaso estarei errado?
Ficámos em silêncio uns segundos. Eu devia estar vermelhíssimo. O Mike, o Luís e a Vanessa estavam de boca aberta. A Joana estava à porta também corada e de boca aberta. O Dr. olhou em volta, os outros procuraram disfarçar o espanto.
- O senhor quer me convencer que o seu grupo é uma boa companhia para a minha neta?
- Sim. Senti a necessidade de o descansar. Afinal deve ser uma ocasião muito especial e de uma importância ainda maior o dia em que vem para estas bandas. Se calhar há muito que não vinha aqui. Logo quando ia a sair vêm um grupo de jovens à porta das suas netas, antes que pudesse fazer juízos apressados sobre nós decidi descansá-lo subtilmente. Falhei redondamente. Afinal não sou assim tão inteligente.
O Dr. Capuchinho sorriu, quase rindo, e começou a caminhar deixando-nos abismados. Meia dúzia de passos à frente virou-se e disse-me:
- Senhor Beto, estou feliz por a minha neta Joana ter amigos como os senhores. A sua... suposta... prima Clarissa está hospedada em minha casa. Acabei de convidar a família do meu filho a frequentar mais a minha casa afim de dar uma hospedagem agradável às duas senhoras. Sendo eu sozinho não posso dar a atenção necessária que ela merecem, estado na minha casa. E por acrescento os senhores estão convidados a fazerem as honras da cidade à jovem Clarissa.
Ah, grande Alberto!
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