sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

33 – O que acabrunha o Luís

Quando o Dr. Capuchinho desapareceu no fim da rua a Joana chamou-nos para dentro. Durante um bom bocado estivemos a conversar sobre o meu duelo verbal com o avô dela. O pai deu-me os parabéns pela minha coragem e capacidade argumentativa, embora tivesse sido mais sensato não o ter enfrentado. Mas as últimas palavras do Dr. Capuchinho podiam indicar que eu o tinha conquistado. Depois falou-se do que se passou na Delegacia, mas nada de novo surgiu e o pai da Joana tinha que ir à reunião do Concelho. Ficámos indecisos sobre o que fazer, mas como estava um bom dia resolvemos ir para o nosso local preferido – o Hide Park.

Acompanhámos o Dr. Filipe Capuchinho até ao Point. Pelo caminho íamos dizendo que a cidade estava toda à nossa disposição. Na Main começávamos a ver mais gente, uns dirigindo-se à reunião e outros na esperança de assistir a ela.

No Hide Park não vimos ninguém o tempo todo. Também não sentimos a falta de companhia. Sentámo-nos ao sol numa pequena elevação relvada e conversámos. O Mike contou a sua aventura com a cheerleader lourinha, apesar de ele querer dar a imagem de ter conseguido tudo dela, a Vanessa acabou por conseguir fazê-lo confessar que os dois passaram o tempo todo na discoteca mais próxima fora da Silveira, para lá do Sabugal do Sado. Depois trouxe-a a casa e não passaram dos tímidos beijos. No entanto ele disse que ela já estava no papo.

Eu e a Joana contámos a nossa manhã. Muita admiração demonstraram por eu ter ido à missa. Não me dei ao trabalho de explicar, não estava para aí virado. Nem do poema na parede da loja do meu pai falei, a bem da verdade nem me lembrei.

O Luís foi o que menos falou. Foi a custo que arrancámos dele o que o acabrunhava. Sem mais nem menos a namorada acabara com o namoro. Sem mais nem menos não existe, fizemos nós ver ao Luís. E ele pela primeira vez mostrou-se verdadeiramente descontente com facto de viver nesta cidade. A causa do rompimento do namoro deve-se segundo ele à existência secreta da cidade Silveira. Sabugal é de certa forma cúmplice da nossa clandestinidade, mas até agora não tem havido problemas nos relacionamentos entre naturais das duas localidades.

A rapariga dizia achar estranho o Luís nunca levá-la à sua cidade. De manter um segredo muito grande em relação às suas origens. Nós concordámos com ela. O secretismo era desnecessário. O Luís olhou-nos surpreendido e magoado. A Vanessa disse:

- Luís, a rapariga ao fim de quatro anos de namoro deve ter-se cansado de tanto segredo. E também o que vos unia pode ter acabado. Vocês eram muito novos quando começaram e ainda são. Se calhar a paixão acabou e nada ficou para vocês continuarem juntos.

- Vai na volta ela conheceu outro gajo que vivesse mais perto. – disse o Mike.
O Luís manteve-se calado. E a Joana pôs um ponto final no assunto dizendo que pela reacção ao rompimento o Luís também já não estava apaixonado, simplesmente era cómoda aquela relação. O Luís acabou por lhe dar razão ao sorrir timidamente a esta opinião. Todos caímos em cima dele, dando-lhe caldos e carolos.

Depois ficámos ali dizendo baboseiras até perto do pôr-do-sol. Foi uma tarde muito bem passada ao ar livre.

1 comentário:

  1. Os Espinhos são mais espertos do que o resto da população, pois não se deixam levar pelo pessimismo que a todos atingiu. O Alberto tem razão: porque pensam todos que a rapariga quererá acabar com a cidade?

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