terça-feira, 11 de janeiro de 2011

34 – O rato que a montanha pariu

Quando cheguei a casa perto da hora de jantar, o meu pai tinha acabado de sentar-se na sala para contar às mulheres da casa o que se passou na reunião do Concelho Municipal.

- Na realidade não há muito para dizer, sobre o que se passou. - Dizia o meu pai. - Passou-se muito tempo a discutir se as forasteiras deviam participar na reunião ou não. Acabou-se por decidir que não. Foram apresentados os documentos entregues por elas e analisados. Realmente parecem todos legais e autênticos. O Dr. Capuchinho apresentou toda a documentação relativa à doação desta herdade por parte do Senhor Teotónio e discutiu-se muito sobre os trâmites legais a que estamos sujeitos, se a neta reclamar a propriedade. Por fim foi decidido pedir-lhe que façamos a comprovação genética da sua filiação. Como é neta não se poderá ter a certeza absoluta, mas teremos uma indicação forte.

- Só isso? – perguntou a minha mãe que falava por todos nós.

- Eu bem disse que não havia muito para dizer. Já sabíamos o que os documentos diziam, só constatamos que eram verdadeiros. Enquanto se espera pelo teste vamos pensando numa forma de resolver o problema.

- Acho que foi muito inteligente da parte do Dr. Capuchinho dar hospedagem às forasteiras. – disse eu perante a tendência do meu pai para se repetir.

- Como é que sabes isso? – perguntou-me ele.

- Foi o próprio Dr. Capuchinho que me disse. Não sei se sabes, mas a neta mais nova dele é minha amiga. Hoje fomos lá à casa dela e encontrámo-lo a sair da casa.
Todos na sala olharam para mim de uma forma estranha. As minhas irmãs tentando disfarçar a vontade de rir. Às vezes tenho a sensação de ser um desconhecido para a minha própria família. Ou então sou eu que não os conheço.

Apesar de tudo a sensação que ficou foi que a montanha pariu um rato. E o Concelho resolverá tudo como sempre.

1 comentário:

  1. Uma comprovação genética? E se ela se recusar? O que fazer, perante documentos legais? O melhor é enfrentar a realidade e perguntar à menina quais são os seus planos concretos!

    "Às vezes tenho a sensação de ser um desconhecido para a minha própria família. Ou então sou eu que não os conheço" - não está só, caro Beto ;)

    ResponderEliminar

Queria deixar aqui a sua opinião.