sexta-feira, 12 de novembro de 2010

17 - Festa

Como dos versos não houve desenvolvimento, a minha atenção manteve-se ocupada com as aulas e a rádio. O meu trabalho de assistente de realização consistia em ir buscar discos, textos ou jornais, cafés e atender telefones. Queria mesmo era estar em frente do microfone e a escolher músicas. Mas tenho paciência e vou aprendendo.

Outra tarefa que tenho executado é a pesquisa e compilação de pequena notícias nos jornais nacionais, para serem dadas nos noticiários da rádio. Faço recortes e recolho em pastas por assuntos. O que mais gosto de fazer é compilar notícias ligadas à indústria musical e ao showbiz.
O primeiro trabalho mais ligado à rádio, rádio, foi num sábado duas semanas depois de entrar para a estação. Requisitaram-me para auxiliar uma emissão especial a partir do Hide Park. Houve música ao vivo no Bowl, quermesse pelo parque, a Banda Filarmónica Silveirense tocando no coreto e as cheerleaders dando espectáculo. A festa tinha como motivo o São Martinho e por isso houve também magusto à noite.

Eu ajudei a montar o equipamento, corri de um lado para o outro à procura dos entrevistados, fui buscar cafés, sumos e bolos, puxei cabos, levantei antenas e carreguei papéis. Dois quartos de Silveira estavam presentes na festa. Ou seja, fartei-me de trabalhar de graça para garantir uma emissão que nunca seria ouvida por mim, pois estaria na festa se não estivesse a trabalhar. E qual terá sido o nosso share de audiência? Vai um número? Talvez por alto se possa dizer… um por cento. Uau!

A única coisa boa foi a presença dos Espinhos Narcisos, deram-me uma boa ajuda, companhia e alento. Improvisei com eles entrevistas para um microfone usando num jornal enrolado. Trouxeram-me castanhas assadas e água-pé. Mostrei-lhes os equipamentos para a emissão. E avisava-os quando alguma repórter especial se dirigia para perto deles. Estas repórteres eram estudantes do liceu que pertenciam às cheerleaders, mas que não puderam entrar no espectáculo. Oh, que pena não poder vê-las de perna ao léu, com este fresquinho, as cuequinhas da cor do fato justo, quando saltam, dançam ou simplesmente quando nós nos abaixamos um pouco, e que pena não poder ver-lhes dos decotes e os cabelos genuinamente louros da Fiona’s Hairstyles (patrocinadora principal da equipa de cheerleaders, madames do jet7 silveirenses e do único metrossexual a part-time da terra). Oh, que pena! Mas pude desfrutar da sua indiferença para com a minha pessoa. Ai, as perguntas parvas! Ai, os risinhos histéricos! Ai, a jactância! Duvido que alguma saiba o significado de jactância.

Como já não bastava a tarde toda de trabalho escravo, ainda tive que aguentar a noite. Aquela noite foi a minha estreia no trabalho escravo na televisão. A audiência deve ter subido para dois porcento. Estrondoso. Nesse dia havia futebol na televisão nacional. Tenho que dar valor às cheerleaders pois de noite arrefeceu, caiu umas pingas e elas corajosamente continuavam alegres e frescas. Realmente frescas.

A festa acabou e eu tive que continuar lá, mas não senti frio, até suei bastante. Fui para casa depois da uma da manhã. Atravessei o Point devagar entre a Young e a loja do meu pai. Apesar o trânsito inexistente, atravessei nos sinais e ao passar junto à loja do meu pai vejo escrito a vermelho:

quem passa não sabe
o quanto meu coração bate por ti
alta vai a noite
corro antes que a festa acabe
escrevo só para dizer
gostei de te ver ali




1 comentário:

Queria deixar aqui a sua opinião.