terça-feira, 9 de novembro de 2010

16 – Reacções na espuma da água

Silveira sendo uma cidade tipicamente Americana, não o é no que diz respeito à cultura, mais uma vez a cultura, das grandes cidades. Por isso, por cá nunca houve graffiti nas nossas paredes. E dá para imaginar o espanto, o assombro da população. Na realidade eu devo ter sido um dos primeiros a ver a quadra.

É claro que foi notícia de primeira página dos dois jornais da cidade: Silveira Post e Silveira Times. Tenho uma leve desconfiança, mesmo leve, de que pelo menos o Times internacional não sabe da existência desta sucursal. Bem se vê o caudal informativo que jorra da actualidade silveirense.

Mal o sol nasceu, formou-se um grande ajuntamento de pessoas em frente aos graffiti. Várias opiniões surgiram, na generalidade desfavoráveis. O curioso é que ninguém se importou com o facto de ser, em princípio, uma mulher a escrevê-lo. Pelos vistos existe uma mulher apaixonada mantendo em segredo os seus sentimentos que no entanto sentiu uma necessidade imperiosa de os expor ao mundo. Os Espinhos não se mostraram muito interessados nas minhas conjecturas. O Luís disse:

- Nada te garante que tenha sido uma mulher, pode ter sido uma rapariga, ou simplesmente um gajo que te quis dar cabo da cabeça, ou alguém que quis dar cabo da cabeça a muita gente.

- Ou para agitar as águas paradas desta terra. – disse a Venessa.

Os outros limitaram-se a sorrir e voltaram para os seus livros. Nós estávamos na biblioteca.

Por volta do meio-dia o poema já não estava lá, mas na minha cabeça martelava “estou só sozinha ignota”. O rame-rame da cidade fez esquecer em toda a gente aquele episódio rapidamente.

1 comentário:

  1. Ah, ganda mulher!!!

    Que pena os Espinhos não se terem interessado. Mas algo me diz que ainda mudam de ideias...

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