terça-feira, 8 de março de 2011

50 – Mike saves the day

No momento em que o Luís acabou de falar entrou na sala visivelmente irritado o Dr. Capuchinho.

- Mas que diabo aconteceu? – Disse quase gritando.

Todos encolhemo-nos nos sofás. Livra, que era intimidante!

- Avô – levantou-se a Joana mais depressa refeita do susto inicial com uma certa ternura na voz (que linda!) – a culpa foi minha. Quis mostrar a cidade à Clarissa e gerou-se uma enorme confusão. Desculpe.

- O que tinhas na cabeça? Levar a possível neta do Sr. Teotónio para onde todos a vissem? E depois afrontar a First Lady? A jovem Bella? Queres causar uma rebelião na cidade?

- Senhor, a culpa também é minha – Disse eu, não suportava ver a minha Joana acusada de tudo. – Na altura não vi o perigo da situação.

- E quem o nomeou responsável pelo acto da minha neta?

- Ninguém e não sou responsável, mas ela não agiu sozinha.

- E fui eu quem levou a Bella ao carro. – Levantou-se de súbito o Mike. – Levei-a e levaria de novo.

A Vanessa olhava para o Mike com admiração. Imitou-nos, mas foi a voz do Luís que se ouviu:

- Acho que posso falar por todos. Achámos boa ideia mostrar a cidade à Clarissa. Ela passou uma semana inteira aqui presa. Não leve a mal, a sua casa é excelente, mas mesmo numa gaiola de ouro a ave sente-se presa.

Todos estávamos de pé. A Clarissa aproximou-se do dono da casa.

- Senhor Capuchinho, peço desculpa pela confusão. Realmente estava curiosa em relação à cidade. Não pensei. – Olhou para o tapete, estava triste.

- Menina Clarissa, não precisa justificar-se. A minha neta e amigos é que deviam ter mais tacto e atrevo-me a dizer esperteza. Com franqueza, então não imaginavam uma reacção destas?
Eu disse mais para mim do que para o ar:

- Não temos vocação política...

- Pois não temos, mas houve uma falha na organização da cidade. – Disse o Mike para espanto geral. – Já vimos comunicados à população para tudo e mais alguma coisa e sobre este assunto nada.

O Mike é espantoso. Conseguiu assim de repente dar a volta à questão.

- Ai tem razão. – Disse o anfitrião que por fim sorriu. Nunca o tínhamos visto sorrir. A Joana descontraiu os ombros. Talvez tudo tivesse passado. – Ai a imprudência da juventude... Foi uma dessas, na vossa idade, que levou o Teotónio aos Estados Unidos. Vocês já contaram a história do senhor Teotónio da Silva à menina Clarissa?

Não, claro que não. Nem nos passou pela cabeça semelhante ideia. Tive vontade de perguntar ao venerável dono da casa onde andara nas noites passadas ao jantar para ainda não ter contado a história às forasteiras. Não perguntei, nem pergunto. Livra! Morria se tivesse outro olhar irritado dele. Livra!

3 comentários:

  1. Claro, há sempre uma maneira de dar a volta à questão. Principalmente, tigres de papel, como o Dr. Capuchinho, são mais fáceis de intimidar do que o que se julga. Basta não mostrar medo...

    Se as meninas, em vez de olharem para o chão, receosas e aflitas, lhe dissessem: "sim, fomos dar uma volta. Porquê? Não podemos?", que reacção é que ele teria?

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  2. Talvez a mesma. No fundo ele governa a cidade porque é o único fundador vivo. Ele tem a responsabilidade de manter o regular funcionamento da comunidade.

    Por outro lado é o representante de uma outra era, um patriarca falhado pois está desavindo com o filho. Provavelmente reagiria na mesma, mas se virmos bem foram as meninas que deram o primeiro passo para se justificar, começando pela neta.

    Gostei bastante da expressão "tigre de papel", desconhecia.

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  3. Sim, é verdade que as meninas deram o primeiro passo. E eu, na idade delas, faria o mesmo. Mas hoje, quando olho para trás, para certas coisas que fiz e disse, pergunto-me porque me deixava intimidar tanto. É que os "patriarcas de outras eras", na maioria dos casos, não passavam mesmo de "tigres de papel" (já agora, a expressão não é minha, é de uma conhecida, mas acho-a muito certeira, em certos casos).

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