terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

40 – Aqui estou eu, Sol resplandecente

A música acabara com um desligar. Seguiu-se um silêncio como que de respiração e o Manuel falou quase murmurando:

- É quase uma experiência religiosa sentir esta música, esta banda sonora do paraíso. Para terminar o nosso programa falta falar do quarto e mais recente disco, do qual já ouvimos Hoppípolla no início. Neste disco os sigur rós associaram-se a um quarteto de cordas feminino amina, já na sequência do anterior trabalho. Esta associação estende-se também às actuações ao vivo, actuado autonomamente na primeira parte. Uma breve nota cor de rosa para dizer que os dois grupos estão de tal maneira interligados que houve casamentos entre elementos dos dois conjuntos. Para terminar fica glósóli, Sol Resplandecente.



Agora que acordaste
Tudo parece diferente
Olho em volta
Mas não há nada

Calço-me, descubro depois
Que ela ainda está de pijama
Num sonho acho-me então
Estou preso por um anticlimax

Ela está com o sol
E ele está lá fora

Mas onde estás tu...

Partiu numa viagem
E deambula pela ruas
Não consegue ver a saída
E usa por isso as estrelas
Ela está uma eternidade sentada
E depois trepa de vez

Ela é o sol resplandecente
Então, desponta!

Acordo de um pesadelo
Meu coração bate
Descontrolado...

Habituei-me tanto a esta demência
Que agora é compulsiva

E aqui estás tu...

Sinto...

E aqui estás tu,
Sol resplandecente...

E aqui estás tu,
Sol resplandecente...

E aqui estás tu,
Sol resplandecente...

E aqui estás tu...

A voz angelical voltara e falava do sol que alguém era. A música tinha um ar de infância, calma, estranhamente outonal, talvez pelos efeitos sonoros de pingos de água que davam o ritmo. Depois do climax a calma. Este tema trouxe-me de volta para minha realidade. Não senti nele nada de marítimo, de gélido, senti-me com seis anos naquele dia de trovoada nos primeiros dias de escola. Estava escuro lá fora e eu a aprender as letras. Mas a música foi subindo de ritmo. E aqui estás tu, Sol resplandecente. Senti um impulso de acrescentar ao que escrevera “aqui estou eu”, mas achei melhor ir embora. Não queira ser apanhado. A música atingira mais um ponto de total explosão emotiva. E acabara suavemente.

Entrou o jingle do programa e como pareceu-me uma profanação, desliguei o rádio e regressei a casa em silêncio.

5 comentários:

  1. Interessante a frase: "senti-me com seis anos naquele dia de trovoada nos primeiros dias de escola." Que sentimentos estão por trás disto? Tristeza? Medo? Solidão? Impotência? Ou, pelo contrário, uma sensação de abrigo e segurança? Porque é que esse dia ficou tão gravado na memória (sua, ou do nosso herói)?

    Já que me disse, num comentário lá em baixo, que a música faz parte da sua vida, talvez devesse considerar aprender a tocar um instrumento. Daria alegria à sua vida. E sempre será um desejo mais acessível do que construir uma vivenda (pelo menos, por enquanto ;)

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  2. Desta vez colei uma experiência minha ao Beto. É a recordação mais antiga que tenho do início da escola. Não me lembro do primeiro dia de aulas, mas lembro-me deste episódio. Lembro-me de ter ido à casa de banho nessa manhã, o pátio estava vazio e a casa de banho situava-se praticamente fora do edifício principal da escola. Muito estranho, mas estávamos no início dos anos oitenta... esta recordação é agradável, dá-me uma sensação de abrigo e segurança, tal como esta música dos sigur rós. Este tema tem uma melodia que remete para infância, basta ver o vídeo oficial para se perceber isso.

    Quanto ao aprender a tocar um instrumento desconfio que seja tão fácil como conduzir... mas é um objectivo para um década, tal como aprender alemão. Eu tenho esses objectivos para a década dos quarenta e dos cinquenta. Na década dos trinta, onde estou, tem sido escrever. Espero continuar até aos meus últimos dias, lá para a década dos cento e vinte...

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  3. Repare que, se aprender a tocar um instrumento, o fará para prazer próprio, não se tratará de uma coisa de responsabilidade, como o conduzir, não terá que provar a ninguém que aprende depressa, ou que se tornará num "virtuoso".

    E mesmo o conduzir depende da prática. Talvez o Jota tenha medo de falhar, de não conseguir corresponder às expectativas e isso causa-lhe muito stress. Tente descontrair-se. Já tentou técnicas de descontracção e relaxamento?

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  4. Conheço algumas. Tive há cinco anos a experiência de participar num movimento religioso chamado Oficinas de Oração e Vida, criado por um frade capuchinho chileno, Frei Ignácio Larrañaga, em que foram ensinadas algumas técnica de silenciamento que basicamente têm esse efeito. Poucas vezes consegui sozinho, mas é verdade que tenho que aplicá-las mais vezes. Obrigado pela sugestão.

    Pois é verdade que sou bastante nervoso. Exijo demasiado de mim e quero resultados depressa. Para aí uns setenta por cento dos meus problemas a conduzir são causados por razões psicológicas. Mas tenho uma boa notícia, hoje antes do lanche dei uma voltinha com o carro e correu bem, o motor não foi a baixo. Agora tenho um novo plano: é andar todos os dias trajectos pequenos e fáceis no princípio, não ter pressa, pois só precisarei do carro para ir para o trabalho lá para Maio ou Junho.

    Quero ver se arranjo um espaço no dia para me dedicar à música, talvez antes do jantar ao na altura das línguas, que por sinal estão paradas por causa desta história da condução. Se eu conseguir criar uma rotina, um momento para cada coisas, talvez sinta a minha vida mais preenchida e produtiva.

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  5. Parabéns! E não desista! Dê uma voltinha com o carro todos os dias. Uma coisa que também ajuda muito, é fazer sempre os mesmos percursos. Quando nos habituamos a determinado percurso, conseguimos guiar cada vez melhor, sabe-se exactamente quando temos que mudar de velocidade, como são as curvas, como se "comporta" o movimento, etc. No início, ajuda muito. O Jota tem medo de fazer alguma asneira, que os outros o tomem por parvo, ou coisa parecida. Passamos todos pelo mesmo :)

    Quando já não precisar de se dedicar tanto à condução, terá mais tempo para outras coisas :)

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