terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

44 – Jogos florais, parte dois

A tia Bernanda Augusta Pascoaes Meneses de Botelho Castro fez a sua entrada na sala. Terá sido triunfal? Pareceu-me presunçosa (mas isso deve-se à minha implicação). Vinha ela à frente e a Clarissa logo atrás. Mais uma vez tive a impressão de não haver harmonia entre as duas. Sou capaz de jurar que a prima arrastava os pés.

Assim que entraram, e enquanto dirigia-me a elas, a tia examinou-nos, penso eu, sem piedade. E a Clarissa passando do soturno para o quase assustado. Os restantes Espinhos pousaram a sua atenção nelas. Nisto fui para o pé da prima e fiz as apresentações.

- Pessoal, apresento-vos a tia da Clarissa e a própria. É a neta do Sr. Teotónio e por isso parente de quase todos nós. Só o Luís ali é que não é parente.

Ele deu um salto do sofá e saudou-as com um “bem-vindas” num tom algo efeminado. O grupo riu-se e a Joana, como neta do dono da casa, fez o restante das apresentações. O Luís corou. O Mike lançou logo o seu charme e a Vanessa mostrou-se pouco participativa.

- Vejo, senhor Beto Prazer, que continua ao seu melhor nível. – A tia resolveu fazer-me alvo das suas atenções. Que júbilo!

- Sabe tia, são muitos anos de prática. Folgo em saber que o nosso breve encontro ficou-lhe indelevelmente registado na memória. O que um homem pode mais desejar?

- Sei lá... tanta coisa, mas é bom ver alguém optimista: homem?

A tia riu-se sonoramente, mas eu não me fiquei. Desde que bati com a cabeça que estou assim.

- É óbvio que não sou do género feminino, né? – Ia acrescentar se não queria comprovar, mas o Mike, tão admirado como os restantes Espinhos, cortou-se a palavra.

- Prima, o que está a achar aqui da nossa cidade?

- Vossa? – Fungou a tia.

- É diferente. – Disse a Clarissa ignorando o aparte da tia. – Eu vivi sempre em Lisboa e isto é todo um mundo novo, mas ainda não tive oportunidade para conhecer melhor a cidade.

- Mas isso resolve-se. – Disse a Joana. – O meu avô pediu-nos para fazermos companhia. Como chegámos ao fim-de-semana, vamos puder dar umas voltas.

A Clarissa agradeceu com um sorriso bonito. Reparei que o Mike e o Luís ficaram derretidos. A Joana sorria e a Vanessa disfarçava mal o mau humor (ultimamente ela tem estado muito azeda, irritada ou aborrecida). Já a tia devia achar a ideia de andar a passear pela cidade tão atraente como entrar num esgoto. Isso divertia-me.

- A tia certamente que irá adorar – disse eu a palavra adorar de forma arrastada e afectada – a Fiona’s Boutique. Todas a mulheres de uma certa idade adoram lá ir.
Olhou-me de uma forma assassina, mas aguentei-me.

- Está a chamar-me de velha?

- Eu?! De modo algum. Olhando para as mulheres da sala diria que todas são colegas de escola, mas... – fiz uma pausa estratégica e inclinando-me para ela, baixei a voz – o BI não mente e a experiência de vida é vital para frequentar a Fiona’s Boutique.

A dona Maria, providencial, entrou na sala empurrando um carrinho repleto de iguarias para o nosso lanche ajantarado. A tia levantou-se exagerando no ar ofendido e saiu mandando a governanta levar um chá ao seu quarto. Todos tentavam não rir. Eu ainda consegui dizer para ela ouvir, já estava perto das escadas:

- As miúdas da nossa idade não sabem apreciar.

Se ela ouviu, não sei, mas todos desmancharam-se a rir, sobrinha incluída.

1 comentário:

  1. Agora que se livraram da tia, vamos ver se conseguem conversar com a Clarissa.

    O Beto saiu-nos um atrevido... ;)

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