sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

43 – Devaneios numa luxuosa sala

Enquanto esperávamos pelas convidadas, o grupo espalhou-se pelo espaço. A Vanessa observava os retratos de família e os quadros. O Luís ainda murcho sentou-se num sofá olhando para o tapete. Eu e o Mike analisávamos o jardim que se via das janelas. Ele tecia comentários sobre a riqueza daquela mansão. Falava, mas eu pouco ouvia. Sempre que podia dava uma olhadela nas raparigas, na Joana mais propriamente. Ela falava baixinho com a Vanessa explicando, talvez quem é quem nas fotografias. Notei algum nervosismo ou pouco à vontade.

O Mike sentou-se como se fosse um rei ou o dono da casa. Estava a apreciar verdadeiramente o luxo. Era pródigo em “Ah!”, “é pá isto é que é qualidade de vida”, “ fixe”, “é pá”, “olha-me aquilo”. Esta última expressão foi dirigida para o candelabro suspenso no tecto. Mesmo em frente, na parede oposta, estavam as raparigas de costas para nós. Reparei que a Vanessa trazia saia, algo pouco habitual. Fiquei na dúvida se o Mike dera aquela exclamação para o candelabro ou se para as pernas bem torneada da miúda.

A minha Joana estava de calças, mas adivinhavam-se belas pernas. Na verdade todo o corpo adivinhava-se bem jeitoso, não demasiado magro, nem musculoso. O cabelo castanho claro liso ficava-lhe bem com o tom de pele. O rosto num meio termo entre o redondo e o alongado completava o retrato de rapariga calma, inteligente, mas com personalidade forte. Ela trazia quase sempre um olhar triste. Penso que seja por causa da infelicidade da irmã e dos problemas entre o pai e o avô. Naquela sala, recordando o passado familiar, sorria e o seu rosto angelical tinha uma luz nova e atraente.

Caminhei pela sala, como uma borboleta atraída pela luz. Uma força oposta, chamada vergonha e medo, impedia-me de borboletear à volta das raparigas. Uma onda de mau humor desabou no meu coração e voltei para a contemplação do jardim. Felizmente os meus devaneios sentimentais tiveram que regressar para a escuridão de onde saíram, pois as forasteiras desceram as escadas e entraram na sala.

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