sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

41 - Dúvidas sobre a eficácia da vociferação

O Liceu e a cidade descobriram o meu poema de resposta logo cedo. A Direcção providenciou rapidamente para que a parede fosse pintada, mas não a tempo da principal destinatária lê-lo. Decidi fazer os possíveis para chegar mesmo em cima do toque, para dar tempo à Joana de ler a resposta. O Mike estava admirado comigo por me ter atrasado, é habitual ser ao contrário.

Quando chegámos estava uma pequena multidão em frente da parede. O Mike correu logo para lá e eu segui-o, sorrindo por dentro. Sem dúvida que o Beto rebelde viera para ficar. Os restantes Espinhos já lá estavam. Em redor todos comentavam. O Mike teve que insistir muito para que lhe dessem atenção e explicassem o que se passava. A Vanessa e a Joana, a minha Joana, contaram-lhe, mas foi o Luis quem falou primeiro:
- Agora virou moda escreverem-se poemas nas paredes. Poemas aliás de fraca qualidade. – Eu disse no meu pensamento “É pá, Luís, isso doeu”.

- Qual poema? Não vejo nenhum. – Efectivamente o Director mandara o senhor José Pereira, mais conhecido por Ti Zé Chaparro por ter quase dois metros de altura e ser bastante desengonçado, pintar a parede onde eu escrevi o meu primeiro poema.

- O Ti Zé acabou de pintar por cima. – Disse a Vanessa olhando muito intensamente para o Mike. Achei estranho aquele olhar.

- O que nós achamos é que alguém respondeu aos outros poemas. – Disse a Joana bem disposta.

- Achas que sim? O que dizia? – Perguntei eu.

Para meu espanto ela disse o poema todo de cor. Para meu espanto e alegria. Se ela fixara o poema, era porque estava interessada e porque sentiu-se respondida. Tive a tentação de confessar-me logo ali como o autor e que correspondia ao sentimento expresso por ela. Só não avancei porque várias outras raparigas estavam naquele momento recitando partes do poema. Uma voz na nossas costas juntou-se naquele momento. Era a do Director furioso com tudo o que acontecera e mais aquele ajuntamento:

- Já para dentro, todos!

Minutos depois todo o Liceu sabia de cor o poema e estava reunido no ginásio ouvindo o Director vociferando, chamando a mim serigador, irresponsável, vil criminoso, desrespeitador da boa ordem silveirense e ameaçando o autor, eu, de cruéis e terríveis castigos. Tenho dúvidas sobre a eficácia daquele discurso exaltado. E tanto é verdade, que depois do almoço o discurso foi mais pedagógico e menos ameaçador.

1 comentário:

  1. Em Silveira reinam regras mesmo muito severas!

    "Disse a Vanessa olhando muito intensamente para o Mike" - será que o Beto se enganou? Era pena. Mas, nesse caso, terá que arranjar outra maneira de se declarar à Joana. A ver vamos...

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