sexta-feira, 6 de maio de 2011

67 – A ver passar pessoas importantes

Ficámos ali um pouco a observar as pessoas a passar. Algumas nem tinham assento no Conselho, iam por curiosidade. Nós estávamos quase, quase a ir também quando o pai da Joana passou. Parou e cumprimentou-nos com simpatia. Ele também não sabia o motivo da convocatória tão urgente.

- Mas das duas uma: ou é por causa aí da vossa amiga – apontou para a Clarissa com um sorriso – ou é por causa desta onda de graffiti que tem assolado a cidade.

Todos concordámos. A Clarissa parecia envergonhada. Eu tentei não parecer. Afinal dois deles foram meus.

O Dr. Filipe Capuchinho foi embora com a recomendação de todos irmos para casa almoçar e chegou o meu pai. Cumprimentou-nos e mandou-me para casa. Encolhi os ombros para o Espinhos, tinha que ir. A Joana compreendia-me. Ao menos isso. E se ela for a autora dos poemas, mais me compreenderia... ou eu a ela.

Não tivemos tempo para ir embora pois do Workers Licor and Food saiu um pequeno grupo de personalidades da cidade encabeçadas pelo Dr. Capuchinho, sénior. Nós encostámo-nos à loja do meu pai para os deixar passar. O venerável saudou a neta com um beijo na testa e com um leve menear da cabeça à Clarissa. Os outros ignoraram-nos prestando toda a sua atenção à presumível neta do fundador da cidade. Encaminharam-se para a Câmara com pompa e circunstância. Pelo menos aos meus olhos.

Se pensámos que tinham terminado os cortejos reais, muito bem enganados estávamos. Faltava o cortejo principal. Do Fiona’s Boutique saiu a poderosa Natércia Brigadeiro seguida pela sua corte. Não digo coorte por respeito à Vanessa cuja mãe a integrava e ocupava um lugar de alguma proximidade à líder. Seguia logo atrás da Bella. Uma parte do grupo era casada com uma parte do grupo do doutor Capuchinho. Certamente irão encontrar-se ali à frente e confraternizar por bastante tempo, pois nem uns nem outros entrarão no Conselho.

O cortejo passou por nós, felizmente do outro lado da rua. Todas as cabeças subalternas viraram-se para nos mirar. Para nos mirar é favor, para observarem a Clarissa, isso sim. Atenção que eu disse cabeças subalternas, pois a tia Natércia e a falsa loura Bella nem de lado nos viram, tão focadas no ponto de fuga do horizonte estavam. A dona Clotilde ao ver a filha acenou-lhe convidando-a a acompanhá-la. A Vanessa virou-lhe costas e perguntou-nos:

- Quem é a alma caridosa que me convida para almoçar? Se ela vai ali, o meu pai ou já está lá em cima ou vem a correr. Não deve haver almoço em casa e não me apetece cozinhar só para mim...

Como o Mike era quem estava mais perto dela, disse:

- Estás convidada. Se lá em casa não houver comida suficiente, na do Beto há. – Às vezes o Mike tem umas saídas de cavalheirismo troglodita. – É pena estarmos já em cima do almoço, se não íamos para a tua casa e vocês meninas faziam-nos um banquete. - Por favor, Mike, cala-te!

Nem vale a pena descrever a reacção da parte feminina do grupo.

1 comentário:

  1. Pois, aguardemos. Mas que o Beto está muito enganado, está (pelo menos, parece-me)...

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