terça-feira, 14 de junho de 2011

78 - Perseguição

Uma pergunta se impunha: para onde íamos? A Vanessa saíra da casa do Dr. Capuchinho, mas não nos dissera para onde ia. Para casa? Pareceu-me possível, mas quando expôs ao Mike tive como resposta:

- Achas que ela ia querer estar em casa sozinha? Fragilizada como está?

- Ela está fragilizada?

- Beto, hoje não dás uma para a caixa. Então não viste o estado em que ela estava quando fugiu?

Tive que concordar. Estava mesmo quase a chorar, mas isso não me parecia indicador suficiente para dizer que não tinha ido para casa. O Mike acrescentou quando estávamos a chegar ao cruzamento onde estivera o poema no chão:

- Ela vai precisar de desabafar com alguém. E esse alguém só pode ser a Joana. Tens reparado que ultimamente elas têm andado mais juntas?

Não respondei, mas realmente pouco tenho reparado na Vanessa. Há uma semana que só tenho olhos para a Joana. Se ele reparou, é porque só tem tido olhos para ela. Não há dúvida.

Com o meu silêncio ficou definido o próximo sítio onde ir. Continuámos pela Teotónio da Silva Street até ao ponto em que curva para ir desaguar, alguns cruzamentos a diante, na Main, já perto do Liceu. Nesta curva há uma passagem entre duas moradias que nos leva para fora da zona residencial. Há um olival e por ele um atalho que nos permite chegar à zona sul com rapidez. Todos na cidade conhecemos este tipo de atalhos, se a Vanessa dirigiu-se para a casa da Joana, terá sido por aqui que passou. Algo me dizia que ela não tinha vindo para estes lados. Não quis estar a contrariar o Mike, a cidade não é assim tão grande. Numa hora acabaremos por encontrá-la. No entanto acho estranho não a termos encontrado no atalho, mesmo ela correndo não tinha um avanço assim tão grande, nós viemos atrás dela pouco tempo depois. Para quê chatear o Mike?

E assim lá passámos o olival, entrámos no caminho de terra batida que contorna a cidade deste lado. Depois de um pequeno vale e de uma curva à direita avistámos para nascente os primeiro telhados da zona sul. Entrámos no primeiro caminho à esquerda que leva-nos para um beco que começa no início da rua da casa da Joana. Uma cão no quintal à direita começou a ladrar à nossa passagem. O Luís há tempos teve que correr e trepar a uma oliveira, pois este rafeiro tem um feitiozinho proporcional ao seu tamanho, tem quase a envergadura de um serra da estrela. Felizmente os donos estão sempre por perto.

E assim em menos de dez minutos, porque ainda parámos para esclarecer os sentimentos do Mike, chegámos à casa da Joana e nem sinal da Vanessa.

1 comentário:

  1. Conclusão: o Beto até é mais esperto do que o Mike, mas não se atreve a mostrar-lho...

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