terça-feira, 21 de setembro de 2010

2 - Espinhos Narcisos

Quando alguém tenta ser um pouco diferente num meio pequeno, só arranja problemas. Foi o que me aconteceu com o trabalho escolar A Origem da Silveira. Criticaram-me por causa do “da”. Melindraram-se logo os lambe-botas do poder, chamar silveira à Silveira não é admissível. Este tipo de atitudes tornam a cidade num emaranhado de restrições que fazem faltar o ar a quem aspira ter uma existência mais desafogada. Criticaram o facto de não falar nada da história da cidade, pudera, a origem está no que deu origem e não nos factos mais importantes da grandiosa história desta importantíssima localidade. Queriam mais pormenores, mais factos e, sobretudo, informações mais exactas. Mas para quê? Isto é um mero trabalho escolar, que no máximo será lido pelo professor e alguns colegas, máximo dos máximos. Apesar de tudo consegui passar na disciplina e de ano, eu e meu grupo de amigos.

Eu sou o Beto, Alberto Manuel da Silva Galhardo. Sim, sou um membro dessa nobre e selecta família dos Da Silva, parente de quarto ou quinto grau do grande Teotónio, tal como os meus amigos Mike e Vanessa. Somos cada um a ovelha negra de cada um dos três ramos dessa família. Nós os três acabamos por não ser da mesma família, excepto se consideramos parentes entre o sexto e o oitavo grau, temos um trisavô comum. Mas há quem ache muita importância a isso. Nós, mais o Luís e a Joana formamos um pequeno, mas unido, clã nesta selva chamada Silveira.

Somos os Espinhos Narcisos. Nome de uma plantinha rasteira e chata, sobretudo para quem anda no campo e não tem cuidado onde põe os pés. O espinho narciso não chega a ter mais de vinte centímetros, as folhas são espinhos aguçados e tem uma flor amarelada. Faz lembrar aquela imagens microscópicas dos flocos de neve, só que com espinhos. Pois foi esse o nome que escolhemos quando tínhamos quinze anos e íamos entrar para o décimo ano. Tem tudo a ver com a cidade onde vivemos, espinhos – silvas, narciso – o enorme orgulho bairrista que impera por estas bandas.

O nosso pequeno clã caracteriza-se pela amizade que nos une. Não procuramos ser populares, não procuramos ser os líderes do que é que seja, também não procuramos destruir a cidade e suicidarmo-nos no fim. Simplesmente somos amigos, gostamos de estar juntos e apoiamo-nos mutuamente.

1 comentário:

  1. "Também não procuramos destruir a cidade e suicidarmo-nos no fim"... Mas lá que pensaram nisso, pensaram...

    Fico atenta! Força! (Para a continuação da história, não para o suicídio, claro ;)

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