sexta-feira, 29 de abril de 2011

65 – Há nevoeiros estranhos

O Luís e o Mike juntaram-se-nos perto do Liceu. Ficaram admirados por me verem e eu igualmente por os ver, sobretudo o Mike.

- Então, Mike, nenhuma cheerleader para aquecer ontem, ehn?

O contrário do que é habitual ele pareceu-me um pouco embaraçado. Respondeu-me sumidamente com um monossilábico não. Espantado fiquei.

Mais ainda ao notar no ar um clima estranho que não conseguiu identificar. Subitamente ninguém tinha nada para dizer. As raparigas tinham se comportado até à chegada deles como sempre, bastante faladoras e expansivas. Agora tinha tudo mudado. Até parecia que não nos conhecíamos. Estranho.

Sem saber o que fazer nem como quebrar o gelo olhei para a Joana como que pedindo instruções. Ela parecia misteriosamente divertida e mal reparou no meu olhar. Estávamos ali em silêncio, olhando para o Liceu ou para o céu ou para a Main ou para outro lado.

Por fim lembrei-me:

- Vamos ao Hide. – O parque sempre fora o meu refúgio. ~

Todos acolheram a ideia com entusiasmo. Tinha salvo o dia, julgando pela reacção de todos. As raparigas ladearam a Clarissa (para desconsolo do Luís, reparei eu) e explicaram tudo sobre o nosso parque público preferido (e único, a bem da verdade). A Joana contou como o nosso grupo foi formado para mostrar a importância daquele local para todos.

Quando parámos na ponte sobre o Fiona para apreciar a paisagem, o nevoeiro recuara até aos montes que nos protegem e separam do rio Sado. Tanto a norte como a sul, perto das respectivas barragens, ainda se viam bancos de neblina. E o nevoeiro que se instalara no nosso grupo?

terça-feira, 26 de abril de 2011

64 – Passeio dominical adornado por mais uma teoria

As raparigas queriam mostrar a cidade à Clarissa. Descobri isto pela conversa das três. Pelos vistos tinham combinado um passeio na noite anterior, depois de eu ter saído.

Ainda havia algum nevoeiro, o que embelezou a margem leste do Fiona. Fomos até à beira rio em frente da Câmara. Estava fresco, mas era realmente um belo espectáculo ver o recuo do nevoeiro pelas águas até à margem. A princípio só distinguíamos ténues sombras, mas à medida que o vento Oeste o empurrava a massa de vapor desagregava-se. Certo sítios viam-se melhor que outros. Mais a baixo chegou-se a ver um braço da nuvem ainda na cidade que ficou cortado por uma súbita viragem da direcção do vento.

Ao contrário do que tenho observado, desta vez depois do nevoeiro não veio o céu azul. Por cima da neblina densa descobriu-se uma larga camada de nuvens cinzentas. Nada de sol nem de azul do céu. Olhando para a atmosfera não me admiraria que chovesse ao longo do dia. A meio da manhã começaram a aparecer nuvens mais baixas que passavam rapidamente vindas do mar.

Depois da beira rio, descemos a Main até ao Liceu Geral. Fomos fazendo uma apresentação detalhada dos estabelecimentos por onde passávamos e das pessoas que neles trabalhavam. Chegados ao Liceu a Clarissa perguntou:

- Porquê que o Liceu tem o nome em português? Tudo o que tenho visto aqui faz referência ao meu avô ou à América.

Era bem vista a pergunta. Realmente tinha o nome pomposo de Liceu Geral Silveirense. Poderia ter tido o nome de Silveira’s High School ou outra coisa do género.

Não sabíamos. Eu congeminei no momento uma teoria. Talvez fosse para dar a ideia de que apesar de todas as evocações americanas nós vivíamos em Portugal. As gerações formadas naquela escola deviam estar preparadas com uma forte cultura portuguesa para o caso de irem viver para longe a cidade (o que segundo outra teoria minha isso não é possível).

Seja como for a nossa única escola tem um nome português.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

63 – Uma teoria cá minha

Então não é que aquelas alminhas, silveirenses claro, leram a minha mensagem na parede como uma contestação à política financeira do Mayor? Tanto agente da autoridade junto chamou a atenção para o sucedido. Como o escrito foi logo apagado, a história sobreviveu na boca das testemunhas. E depois passou de boca em boca. Todo cidadão que nunca duvidara das finanças silveirenses começou a pensar duas vezes.

Não sei se alguém teorizou sobre o assunto, mas é assim: pega-se num universo limitado de indivíduos, fornece-se uma dada informação descontextualizada e a mentira passa a verdade. Mais, o que não existia, passa a existir. Porquê? Porque se até ao momento essa informação não fora vinculada, é porque não existira, passando a existir por alguma razão isso acontecera. E essa razão deve passar, é provável ou possível, que passe, por haver a necessidade de ser revelada. Ou seja, aparece porque a verdade vem sempre ao de cima. No presente caso, quem se daria ao trabalho de arriscar-se à prisão para dizer uma mentira? Os boatos surgem em conversas causais, as insinuações falsas são quase subliminares. Escrever uma mentira numa parede seria menos eficaz do que passá-la da boca para o ouvido. Escrever numa parede dá trabalho, eu que o diga, por isso é valorizado. Se pintam na parede uma insinuação de que algo se passa nas finanças da cidade, então é porque algo se passa mesmo.

E assim se vê como um miúdo apaixonado gera a confusão numa cidade. Em vez de chegar ao pé da Joana e declarar-me, resolvi inovar. Aí está o resultado. O boato sobre a má gerência do Mayor alastrou-se pela Silveira como fogo nas silvas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

62 – Mas... mas... o que aconteceu?

Na parede do hospital estavam escritas as seguintes palavras: OLHA O TEU BOLSO. Ok, sou um gajo meio complicado. Porquê dar-me a este trabalho todo? Porque sim. Não posso?

Eu gosto muito da Joana, quis fazer algo em grande, algo para a pôr a pensar. Se for a autora desconhecida dos poemas, sabe que estou interessado. Se não, vai ficar no mínimo curiosa. No bolso dela coloquei mais um poema.

Ainda tive a esperança de ela ir ver os seus bolsos naquele momento, mas por azar passou por nós a esposa do Sr. Peninha a dizer para a irmã:

- Já viste isto, mana, agora andam com políticas na cidade. Está tudo de pernas para o ar.

Não ouvi o que a mana respondeu, nem percebi à primeira o que a outra dissera. O que é que o meu graffiti tinha a ver com a política? O que é certo é que outros delegados estavam a chegar e o xerife directamente de casa, nada satisfeito por ter sido chamado tão cedo, nem vinha fardado.

- O que quer dizer aquilo? – Perguntou a Clarissa.

Eu preferi não emitir opinião. Encolhi os ombros e abanei a cabeça. O spray de tinta para electrodomésticos começava a pesar-me na consciência, não pelo que fizera, mas pelo receio de ser topado por quase todos polícias da cidade.

- Será que se passa alguma coisa nas finanças da cidade? – Perguntou a Vanessa à Joana.

- Eu não ouvi falar nada, mas lá em casa pouco se fala do governo da cidade.

- Não existe nenhuma obra grande para ser feita? – Perguntou a Clarissa olhando de novo para o meu graffiti, que depois de ter sido fotografado já estava a ser pintado.

- Não. Tirando a recuperação da casa do teu avô. – Disse a Vanessa. – O que achas, Beto?

Lá tive que encolher os ombros, abrir e fechar a boca simbolizando não ter palavras. Estava mesmo sem elas. O que raio acontecera? Era suposto a Joana ir ao bolso da gabardina e encontrar o meu poema.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

61 – É agora!

Concluíra o meu plano. Nada dependia mais de mim. Talvez por isso vivi a celebração mais intensamente. Consegui manter o meu pensamento afastado do que fizera e das consequências, ainda era cedo para surgirem. Os cântico tocaram-me de maneira especial pela sua beleza. Os tempos do ritual, estar de pé, sentar, os silêncios, as leituras. Havia lugar para mim, também. Havia lugar para todos, percebi.

Desta vez a Joana não subiu ao... sei que tem um nome próprio, mas não me lembro... chamo-lhe microfone. Ela desta vez não participou nas leituras. Pelos vistos vão rodando. A Vanessa e a Clarissa estavam perto, dois banco atrás. Esta, das duas, parecia mais familiarizada com o ambiente de uma missa. E não mostrou qualquer embaraço por se mostrar. O povo silveirense é bastante ordeiro e obediente, sendo o católico talvez ainda mais. Certamente miraram a forasteiras, eu é que não dei por nada. Terá sido por estar a viver a celebração tão intensamente?

No final, esperei por elas. Cumprimentei a duas e soube de como me viram absorto no início. Deixámos sair a maioria das pessoas, a Joana demorou-se um pouco. Estávamos dentro da Igreja, perto da porta. Espreitei para fora com a pulsação a acelerar. O nevoeiro estava a desaparecer. Meu Deus, estava quase!

Estrategicamente deixei as raparigas passar. Vimos algumas pessoas ainda por ali. Estavam a apontar para o hospital, que ficava em frente. Era agora. Estava bem visível o que eu viera fazer na altura em que a Joana foi à sacristia. E como seria de esperar já lá estava um delgado a olhar feito parvo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

60 – Ponto de não retorno

Por mais estranho que parecesse, o meu plano dependia de como a Joana viesse vestida. Foi por isso que saí de casa tão cedo. Queria vê-la chegar para ter tempo de pensar no que fazer a seguir.

Esperei oculto, mas suficientemente perto com o objectivo de entrar pouco depois dela. Graças a Deus estava nevoeiro. Este plano tinha muitas variáveis. Depois de entrar na igreja tive que enfrentar outra.

A Joana foi para a parte da frente. Ainda havia pouca gente, essa variável estava a meu favor. Tinha que agir e agi. Ela depois de chegar ao seu lugar habitual pousou a mala e iniciou o despir da gabardina. Era minha deixa. Apressei-me a tirar o meu casaco e quase que corri para ela. Com a minha aparição a seu lado, a gabardina ficou a meio caminho. Falei baixinho.

- Olá, Joana. Está bem?

Ela pareceu surpreendida, mas rapidamente sorriu.

- Olá, Beto, sempre vieste. Que bom.

- Deixa que te ajudo. – Peguei na gabardina dela e ajudei-a a despi-la. Dobrei-a e com o meu braço direito oculto pelo meu casaco consegui encontrar um bolso dela. Deixei lá dentro um pedaço de papel. Ponto de quase não retorno. – Eu vou lá para trás, sinto-me melhor, só vim dizer-te olá. Até já.

A surpresa voltou ao seu rosto enquanto eu lhe dava a gabardina. No meu rosto dois incêndios abrasavam cada lado. Até a testa ardia. Fui para última fila. Ajoelhei-me e pedi a Deus para acalmar-me. Fiquei lá algum tempo. Faltava fazer o resto. Chegar ao ponto de não retorno e enfrentar mais umas quantas variáveis. A calma foi chegando. A adrenalina voltou a jorrar. Mesmo que não conseguisse fazer o resto, o mais importante já estava feito, os dados estavam lançados.

Depois da oração de joelhos a Joana levantou-se e foi à sacristia. Era a hora. Saí calmamente do meu lugar e da igreja. O nevoeiro era meu amigo. Não vinha ninguém a entrar, por isso ninguém deve ter-me visto sair. Corri para a estrada. Tirei o objecto do bolso e fiz o que tinha planeado. Um minuto depois, ok talvez dois, estava de volta ao meu lugar. A Joana continuava lá dentro. Pouco depois da minha chegada entraram mais pessoas. Cumprira o meu plano sem imprevistos, mas com muitos nervos e tensão. Atingira o ponto de não retorno.

Depois da tempestade veio a calma. Pacificado entreguei todo o sucesso deste empreendimento a Deus. Já não tinha nada para lhe pedir, só Lhe agradecia a oportunidade e dei por mim a dirigir-Lhe o mesmo carinho que sentia pela Joana.

Vogando nestes pensamentos e sentimentos só quando a Joana regressou da sacristia é que reparei na presença da Vanessa e da Clarissa. À saída fiquei a saber que elas deviam ter chegado pouco depois de eu ter ido dar um saltinho à rua. Não me falaram por não quererem interromper a minha oração, eu devia estar mesmo absorto. Estavam surpreendidas e eu também.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

59 – As inconstâncias da alma

Como seria de esperar dormi mal de noite, se é que cheguei a dormir. O plano desfilava na minha cabeça acordado e a sonhar. Dormi, mas não descansei. Muita tensão, muita ansiedade. Assim que saí à rua, pareceu-me ter nascido de novo. Uma leveza, uma calma, a certeza de que tudo ia correr bem. Porquê? Mal se via um palmo à frente do nariz por causa do nevoeiro.

Coloquei o capuz não fosse a minha alegria irradiar luz. No bolso interno do casaco leva o que precisava e mergulhei na bruma. Se fosse há duas semanas, teria dito que os deuses estavam do meu lado, mas eu dirigia-me à igreja. Deus e santo António, padroeiro da igreja, estavam do meu lado. Pelo caminho fui agradecendo ora a um ora ao outro, mas no fim acabei por centrar-me em Deus, afinal tudo depende dele, não é?

Algures lá no fundo da minha consciência havia o desconforto de estar a servir-me da ida à igreja para os meus próprios interesses. Eu abafava esta voz dizendo mais alto que antes do plano já tinha decidido ir à igreja no domingo. A voz respondia-me com o nome da Joana, se não fosse por ela, não ia. Normalmente após este argumento eu calava-me por algum tempo até dizer que era por amor. A voz, por vezes podia ser muito cínica, dizia que eu não conhecia o amor, aquilo era um capricho, uma necessidade de afirmação perante o Mike e o Luís.

Quem te viu, quem te vê, Beto. Há cinco minutos irradiavas luz, agora entras numa espiral de conflito interior. Parei. Respirei fundo. O ar húmido fez-me bem. Manter o plano. Manter o plano era o melhor. Haver nevoeiro era bom sinal. Era sinal que Deus estava do meu lado. Calei assim a voz incómoda e retomei a caminhada.

terça-feira, 5 de abril de 2011

58 – E a adrenalina começa a jorrar

Tive muitas horas para pensar exactamente como iria fazer as coisas. Também para ganhar coragem... e muita. O que me propunha fazer poderia ser a coisa mais genial ou mais estúpida do universo. Tudo dependesse de como sairia da situação.

Foi sentado no alpendre do Dr. Capuchinho que tive a ideia, mas levei as horas seguintes da noite e madrugada para conceber o plano. Aquele domingo iria começar de forma diferente para a Joana e para mim. Já o anterior foi invulgar começando com a minha cabeça a bater na mesa de cabeceira.

O meu plano teve variáveis que potencialmente expõem e denunciam-me, mas não consegui melhor. Lamento. Uma delas foi o facto de ter ido buscar à loja do meu pai um determinado objecto. Se ele descobrir que desapareceu vai pensar logo em mim, afinal tenho alguma facilidade de acesso.

Tanta facilidade tive que depois da tarde no alpendre, mal entrei em casa e vendo que ninguém me ouvira chegar fui pegar a chave das traseiras da Grand Groceries e escapuli-me. Felizmente chovia. Em quinze minutos fui e vim. Outra variável era a minha possível visibilidade nesse tempo. Alguém pode ter-me visto.

Com calma elaborei o plano. O que fizera até então era só o alicerce único e fundamental para seguir em frente ou não. Até perto do momento em que o plano estiver concluído, posso sempre desistir. O ponto de não retorno implica duas acções de preferência simultâneas. De preferência, mas impossíveis de concretizar ao mesmo tempo, afinal sou só um.

Isso levanta outra questão: porquê sozinho? Porque não abrir o jogo ao Mike e contar com a sua ajuda? A bem da verdade não sei. Somos amigos, é certo, mas isto com a Joana vai para além, muito, das nossas histórias amorosas com as raparigas e amigas delas que costumávamos... assim como que... partilhar. É feio dizer, mas acho no fundo, bem lá no fundo, que temo um possível interesse do Mike pela minha Joana no caso de ela não estar tão interessada em mim como eu nela. Espera-me um processo, longo ou não, de conquista, de sedução. Ele é o meu melhor amigo, mas tenho medo da sua interferência. Para já vou arriscar sozinho.

Gela-se-me o sangue, arrepia-se-me a pele, mas meu Deus como me sinto vivo!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

57 – O que os factores exteriores provocam

Talvez por causa da tristeza da Vanessa, talvez por causa do comunicado, acabámos por não ir passear. É certo que ter começado a chover ajudou.

Foi uma tarde muito bem passada na casa do Dr. Capuchinho, que para variar não estava, mais tarde soube-se que nem na cidade. Nas traseiras havia um alpendre com dois bancos de baloiço suspensos. Foi muito agradável. A chuva caía no quintal ajardinado, ouvia-se o seu suave murmúrio por cima de nós como uma banda sonora. Sentíamos a actividade doméstica no interior. Mãe e filha, Maria e Cristina, preparavam-nos um belo lanche. Havia no ar um doce aroma a bolo de canela como à vezes acontece lá em casa.

Ocupámos os dois bancos: raparigas para um e rapazes no outro. Eu, que de parvo por vezes sou apelidado, estúpido não sou. Escolhi ficar na ponta mais afastada das raparigas a fim de poder estar sempre virado para elas. Qualquer um que falasse, rapaz ou rapariga, eu estaria de frente para ele ou ela. Objectivo? Poder contemplar a minha Joana. Para minha sorte ela estava logo na frente das outras, quase nada a tapava no meu campo de visão.

A Vanessa ficou no meio, murcha apesar do aconchego das outras raparigas. E de nós, mas já se vê, somos rapazes, há certas distâncias. Para mais que somos amigos há muito tempo.

Até à altura do lanche falámos pouco. A chuva caía. Os bancos oscilavam. Cada um viajava nos seus pensamentos. Olhares trocavam-se. Percebi a ligação nascente entre o Luís e a Clarissa. Dei por mim a pensar que só faltava o Mike e a Vanessa...

A chuva trouxera um agradável frescor. Sabia bem estarmos ali, juntos, a vê-la cair ou somente a senti-la como eu. Mudei o assunto dos meus pensamentos ao cruzar o meu olhar com o da minha... Joana. Lembrei-me da madrugada de há dois dias. Aquela música renasceu dentro de mim, épica, misteriosa, suave, telúrica. Ah, como o amor e uma tarde de chuva sob um alpendre fazem desencantar em nós palavras pouco habituais: telúrica!